Nos últimos anos, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) tem recebido um número crescente de reclamações de clientes do mercado interno e internacional sobre a presença de seed coat fragmentos da casca da semente nas fibras do algodão brasileiro. O problema, segundo especialistas, tem impacto direto na qualidade e no valor do produto.

A contaminação por seed coat está relacionada a uma combinação de fatores, que vão desde as condições ambientais até o manejo e o beneficiamento da pluma. Embora a genética da variedade cultivada tenha influência, o ambiente de produção como tipo de solo, clima e fertilidade e, principalmente, o processo de colheita e beneficiamento exercem papel determinante na ocorrência do problema.

O seed coat é formado quando a casca da semente do algodão se rompe durante a colheita ou o beneficiamento, liberando pequenos fragmentos que permanecem presos às fibras. A identificação desses fragmentos é feita por análise visual e manual, que mensura sua presença nas amostras da pluma.

Prejuízos à qualidade e à imagem do algodão brasileiro
A presença de seed coat nos fardos de algodão tem provocado desvalorização comercial e dificuldades no beneficiamento industrial. Nas fiações, os fragmentos aderidos à fibra aumentam os custos operacionais e reduzem a produtividade, devido à necessidade de limpezas mais frequentes e interrupções no processo de fiação. Como resultado, a pluma contaminada é desagiada pelo mercado têxtil, afetando a competitividade do algodão brasileiro.

Prevenção começa no campo e termina no beneficiamento
Evitar a contaminação por seed coat requer um manejo integrado, do plantio ao beneficiamento. Práticas adequadas de transporte e armazenamento ajudam a evitar o esmagamento das sementes, enquanto a escolha da variedade e o controle preciso das condições de beneficiamento são determinantes para a qualidade final da fibra.

No campo, a escolha das sementes merece atenção especial. Variedades de alto rendimento tendem a apresentar sementes mais frágeis e suscetíveis à quebra durante o beneficiamento. Segundo a Abrapa, sementes pequenas e de casca fina oferecem maior risco de contaminação, e os sistemas de descaroçamento nem sempre conseguem separar completamente os fragmentos da fibra.
Já na etapa de beneficiamento, a Nota Técnica “Contaminação do Algodão no Brasil”, publicada pela Abrapa em setembro de 2024, traz orientações detalhadas para mitigar o problema. Entre as recomendações estão:
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evitar carga excessiva nas descaroçadoras, operando entre 55% e 60% da capacidade máxima;
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reduzir a rotação do eixo das serras para cerca de 680 rpm;
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ajustar a pressão do pente e do rolo de caroço;
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manter temperaturas moderadas na secagem;
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garantir umidade entre 6% e 7% durante o processo.
 
Essas medidas contribuem para reduzir o impacto mecânico sobre as sementes e minimizar a formação de fragmentos.

Nota Técnica orienta produtores e beneficiadores
Para produtores, técnicos e beneficiadores que desejam aprofundar o conhecimento sobre o tema, a Abrapa recomenda a leitura da Nota Técnica “Contaminação do Algodão no Brasil”, disponível desde setembro de 2024. O documento apresenta orientações práticas e embasamento técnico para preservar a qualidade da pluma e manter a reputação do algodão brasileiro nos mercados nacional e internacional.
Leia o comunicado completo: 
🔗 https://abrapa.com.br/wp-content/uploads/2025/10/Comunicado-Tecnico-N042025.pdf 

